CANTO DE FRASSINO

Os meus horizontes são de Vida e de Esperança !

Textos

COLÓQUIO ACADÉMICO 2013
«A Renascença Portuguesa. Tensões e Divergências»

Assis Machado

Lisboa – Faculdade de Letras

"A RENASCENÇA PORTUGUESA. TENSÕES E DIVERGÊNCIAS"

8/1 às 14:00 até 9/1 às 20:00

Alameda da Universidade, 1600-214 Lisboa

Colóquio
"A RENASCENÇA PORTUGUESA. TENSÕES E DIVERGÊNCIAS"
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
8 e 9 de Janeiro
Anfiteatro III

Grupo de Investigação de Pensamento Português
do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa

Organização:
Paulo Borges
Bruno Béu de Carvalho
Dirk Hennrich
Rui Lopo

PROGRAMA
___________________________________________

8 de Janeiro

14. 00 | Abertura
António Feijó, Director da Faculdade de Letras

14.30 – 16.10 | 1ª Sessão

Paulo Borges
A ideia de Renascença na Renascença Portuguesa

Duarte Braga
O Inquérito Literário, termómetro das tensões na Renascença Portuguesa

Miguel Real
A Pedagogia na Renascença Portuguesa

1
Rui Lopo
O Orientalismo na Renascença Portuguesa

16.10 – 16.30 | Debate

16.30 – 18.35 | 2ª Sessão

João Príncipe
António Sérgio na Renascença Portuguesa (1912-1919)

Romana Valente Pinho
António Sérgio e Teixeira de Pascoaes: um conflito cultural na Renascença Portuguesa

Samuel Dimas
O panteísmo de Teixeira de Pascoaes e o teísmo de Leonardo Coimbra

Manuel Cândido Pimentel
Sant’Anna Dionísio e António Sérgio a propósito de Leonardo Coimbra

José Almeida
Mito, Educação e Espaço-Público no espírito da Renascença Portuguesa

18.35 – 19.00 | Debate

19.00 – 19.50 | 3ª Sessão

Julia Alonso Dieguez
Un pensamiento asistemático ibérico

António Braz Teixeira
A Renascença Portuguesa, movimento plural

19.50 – 20.05 | Debate


2
9 de Janeiro

14.30 – 16.10 | 4ª Sessão

António Cândido Franco
Mitopoese e Filomitia em Teixeira de Pascoaes

Jorge Croce Rivera
Modos éticos do pensar: afinidades e contrastes entre a “ética-política” de Raul Proença e a “ética-metafísica” de José Marinho

Dirk Hennrich
Kant, Nietzsche e Schumann — e um mundo a haver. Sobre um depoimento, «Da Liberdade Transcendente», de Raul Leal.

Renato Epifânio
A estética renascente e a ideia de Pátria

16.10 – 16.30 | Debate

16.30 – 18.10 | 5ª Sessão

Bruno Béu de Carvalho
Pascoaes, Coimbra e Caeiro-Campos-Soares: as estesias aldeã e citadina nas divergências e (im)possibilidades de uma estética da saudade

Raquel Nobre Guerra
Singularidades da experiência saudosa em Teixeira de Pascoaes e Álvaro de Campos: do bucolismo ao «futurismo»

Daniel Duarte
O Pessoa de «A Águia», Nietzsche e a Verdade

Pinharanda Gomes
O criacionismo visto por alguns discípulos de Leonardo Coimbra: Delfim Santos, Sant’Anna Dionísio e José Marinho

18.10 – 18.30 | Debate

18.30 – 18.40 | Encerramento

19.00 | Bar da Biblioteca

Paulo Borges | Manifesto por uma Renascença integral e universal

Nuno Moura | Leitura de poesia

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COLÓQUIO ACADÉMICO - "A RENASCENÇA PORTUGUESA. TENSÕES E DIVERGÊNCIAS"

1.º Dia – Interessantes Comunicações de todos os intervenientes, colocando em destaque o tema em epígrafe. Parabéns à Comissão Organizadora. Um senão: pouca assistência no anfiteatro (cerca de três dezenas) indiciando limitada ou deficiente divulgação…
Ponto mais relevante destas duas primeiras sessões: o debate final que, sendo iniciado de uma forma bastante tímida, explodiu de repente numa discussão inflamada acerca da temática literária da “polémica”.
Em causa a utilidade ou não desta forma discursiva, quer escrita, quer falada, muito referida nas comunicações, tendo em vista a personalidade dos pensadores da Renascença Portuguesa e da revista Águia, nomeadamente, Teixeira de Pascoaes, António Sérgio, Leonardo Coimbra, Raúl Proença, Jaime Cortesão e outros.
Opiniões diferenciadas acerca da “polémica”: inútil esta estrutura, considerada mesmo, no horizonte cultural, como mera “peça de museu”; estilo formalista incongruente e conflituoso sem nenhuma resultante de positividade; foco tendencioso de animosidades doentias, além de exibicionismo balofo; pura ferramenta desnecessária e vazia de sentido cultural e humanista, enfim, várias achegas umas a favor, outras contra mas, no final, penso ter prevalecido a ideia de que, apesar de todos os senãos, a referida tese da “polémica” prevaleceu na ideia dos presentes como metodologia utilitária e ponto de partida de formulações criativas e geradoras de novos horizontes do pensamento e consistência de itens cognitivos de valor acrescentado.
Quanto a mim, quero referir que a “polémica” é nada mais que uma metodologia a que recorrem os pensadores mais comuns, nomeadamente os que são portadores de vastos conhecimentos culturais e científicos. Ademais, para se “combater ideias”- prerrogativa estilística desta forma discursiva – há que existir nos intervenientes que se prezem seguro substrato cultural. Doutra forma será inútil, de facto, esta atitude.
A POLÉMICA é considerada universalmente, segundo o sentido greco-latino, como a forma mais avançada de debate de ideias, na seguinte sequência: ironia, crítica e polémica.
Toda a história do conhecimento humano, sob o ponto de vista literário, artístico, filosófico e, até, religioso, tem sido fértil destas formulações discursivas. Conclui-se, pelo resultado da sua ocorrência, que são as «grandes polémicas» que estão na base de quase todas as significativas mudanças da História.  
Prof. Assis Machado, poeta e musicólogo

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COLÓQUIO ACADÉMICO - "A RENASCENÇA PORTUGUESA. TENSÕES E DIVERGÊNCIAS"

2.º Dia – Continuação de um bom nível qualitativo das intervenções, no seguimento do ocorrido na véspera. Apenas um novo senão: assistência ainda mais reduzida do que na anterior sessão. Pouco mais do que cinquenta por cento da assistência transacta. Apetece dizer, como Braz Teixeira deu a entender no fim da sua intervenção no evento, por palavras um pouco mais selectas: “muita parra e pouca uva”. Quanto a mim, esta prestigiosa Comissão Organizadora não merecia tão sintomático desinteresse. É de estranhar tal fenómeno… já que as temáticas em causa são sobejamente aliciantes para os amantes do espírito da Renascença Portuguesa.
Creio que a apatia sociocultural, manifesta neste Foro Académico, se deverá em parte à síndrome da crise geral do País: o País está doente! E o fiel mais aferidor desta anemia pode ser constatado no desinteresse pela Cultura. Vem a talho de foice a memória do polémico acontecimento que teve lugar, por alturas da Renascença, aquando da desistência de Leonardo Coimbra da candidatura à leccionação nesta Casa da cadeira de Filosofia. O manifesto “desprezo” das suas teses do Criacionismo – estranho para a época – levou-o a sacudir o pó das suas sandálias ou, como se diz lá para o Norte; “para quem não quer há muito”!
Por analogia historicista poderemos dizer que este fenómeno pelo desinteresse em partilhas académicas já vem de longa data. Talvez, quem sabe, desde os tempos heróicos das Conferências do Casino…
Por estas e por outras é que tem cabimento a emergência do «Anti Manifesto» do professor Paulo Borges, mentor cimeiro deste Colóquio, que teve lugar no encerramento do mesmo.
O ponto discursivo mais relevante deste segundo dia foi, sem dúvida, a discussão sobre a tese Pascoalina da “Saudade” e, como resultante, de todo o doutrinário à volta do Saudosismo, tendo perpassado a ideia de que esta filosofia foi, sem dúvida alguma, a mentalidade característica de todo o movimento renascentista português e, por isso mesmo, gerador de uma avassaladora onda polemista sem precedentes. Todavia sentiu-se a preocupação na busca de teorias, ora consensuais, ora divergentes, que fizeram da segunda e terceira décadas do Século Vinte um dos períodos cronológicos de maior criatividade de toda a cultura portuguesa.
Os autores mais referenciados neste segundo dia, para além de Pascoaes, foram Leonardo Coimbra, Raúl Leal, Sant´Anna Dionísio e, claro, Fernando Pessoa, na versão heterónima de Álvaro de Campos.
Quanto aos debates não houve tanta animação como no primeiro dia mas foram compensados, sumamente, pela apresentação oportuna de um «Manifesto por uma Renascença integral e universal» da autoria do professor doutor Paulo Borges.

Assis Machado, poeta e musicólogo


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COLÓQUIO ACADÉMICO - "A RENASCENÇA PORTUGUESA. TENSÕES E DIVERGÊNCIAS"

À LUZ DO COLÓQUIO: A LUZ DA SAUDADE
Pelo professor
Assis Machado/Frassino Machado

A ideia mais comummente tratada/citada durante este Colóquio foi insofismavelmente a ideia de SAUDADE. Quer a partir da tese originalmente formulada por Teixeira de Pascoaes quer por referências, umas abonatórias outras nem tanto, às teses elaboradas com mais ou menos sistematização por variadíssimos pensadores da nossa “praça cultural”. A utilização, nesta reflexão, da expressão “praça cultural” tem o intencional propósito de cabal constatação que desde sempre se tem feito sentir na mentalidade lusa dominante: o uso, para não dizer, o abuso, a postura neurótica, vulgo exibicionismo, das citações deste e daquele teórico muitas das vezes descontextualizadas da intenção que possa estar na mesa das considerações. Só falta mesmo, a maior parte das vezes, neste fenómeno o recurso ao falacioso estratagema da metodologia da “banha da cobra” e/ou tráfico de influências académicas com a intenção explícita de “marcação territorial da uma certa imagem magistral” que, bem vistas as coisas, acaba por transformar esses vendilhões avulso em “falas sós” inveterados…
Faço aqui lembrar, argumentando nesta mesma labiríntica prerrogativa, o que nos diz o insigne professor Eduardo Lourenço: “Citar um autor nacional, um contemporâneo, um amigo ou inimigo, porque nele se aprendeu ou nos revimos com entusiasmo, é, entre nós, uma raridade ou uma excentricidade como usar capote alentejano. A referência nobre é a estrangeira por mais banal que seja, e quem se poderá considerar isento de um reflexo que é, por assim dizer, nacional?” - Eduardo Lourenço, O Labirinto da Saudade.
No caso concreto do nosso Colóquio prevaleceu horizontalmente esta sub-reptícia dinâmica discursiva intencional, isto é, tentar esclarecer o que o criador deste “dogma da Saudade” quererá explicar com a sua sublime originalidade.
Assim evoluíram ao longo de todas as comunicações e interpelações as mais variadas achegas conceptuais: sentimento, ausência, distância, emoção, lembrança, paixão, orfandade, ânsia, memória, vazio… enfim, procurou-se tentar explicar aquilo que o mesmo Eduardo Lourenço referiu como inexplicável, isto é, faltou nesta deriva intelectual juntar àquilo que se disse o que verdadeiramente não se conseguiu dizer. Então, aí sim, talvez estivéssemos mais perto da mensagem de Pascoaes.

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No encadeamento da discussão acerca do “conceito de saudade” prevaleceram duas imagens cognitivas distintas: a dialéctica propositiva entre o sentimento bucólico, de que Teixeira de Pascoaes é o principal actor, e o sentimento urbanístico que tem em Álvaro de Campos o mais destacado mentor; por outro lado, o realce da “estética da montanha”, na figura da Águia – icon paradigmático da Renascença Portuguesa.
De facto, para aprofundar com propriedade a concepção saudosista do Falcão Amarantino – que fez emergir a Saudade como dogma central da doutrina do ínclito Movimento – há que se catalisar uma energia mental suplementar análoga à subida de uma áspera montanha: a montanha da alma, personalizada na figura pascoalina do Marão. Do seu cume poderá acontecer o sonhado “voo da águia” no horizonte da humana libertação.
Todavia, como disse atrás, todas as teses sobre a Saudade, no ideário do polémico poeta-filósofo, ficarão sempre aquém do plausível, já que abunda sempre algo indizível em cada dissertação. Porque a Saudade não se explica. Ela, simplesmente, é. Em si mesmo está-se não num mero sentimento natural mas antes numa “crença genuína” ontológica que envolve todo o ser do homem, que mora dentro dele. Ou, como diria Heidegger, o homem sendo a morada do ser (Da-sein) contém em si, como num “pro-jecto endémico”, todas as virtualidades da sua entidade. Entre todas elas avulta com certeza a espiritualidade saudosista.
Concluindo, resta acrescentar que Teixeira de Pascoaes ao incendiar toda a Renascença Portuguesa com a chama luminosa do espírito da Saudade e o labiríntico emaranhado de imagens poéticas sui generis (na cabeça ingénua dos críticos da época) mais nada fez do que tornar-se no alvo referencial para os pensantes da intelectualidade portuguesa, tanto sobre o ponto de vista apologético, como antitético. Ademais, torna-se evidente que o nosso autor, nortenho de nascimento, tentou dar vida caracterizante ao modelo civilizacional português, não no sentido propriamente do “conceito de raça” mas, acima de tudo, fazer emergir um brio humanista no que diz respeito ao legado patrimonial, por demais esquecido, que foi toda a sua experiência histórica colectiva.

Prof. Assis Machado, poeta e musicólogo

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MANIFESTO INTEGRAL
Paulo Borges, prof. universitário

(Anti-)Manifesto por uma Renascença integral e universal

1. Isto não é um manifesto. Isto é uma declaração de horror por todos os manifestos. E este horror abrange esta mesma declaração.

2. Todos os manifestos são ridículos. Todos os manifestos foram, são e serão fúteis. Todos os manifestos são a incontinência e o despudor de quem acha que o mundo, a vida e a realidade carecem de manifestos.

3. O mundo, a vida e a realidade não carecem de manifestos. O mundo, a vida e a realidade bastam-se. O mundo, a vida e a realidade são o único verdadeiro e perfeito manifesto. São o único verdadeiro e perfeito manifesto porque não anunciam nada, não são a favor de nada, não são contra nada e não manifestam nada.

4. Mal de quem pensa e escreve manifestos sobre o mundo, a vida e a realidade em vez de dar o corpo ao manifesto do mundo, da vida e da realidade. Mal de quem se encobre em vez de se descobrir, mal de quem se veste em vez de se despir.

5. Um manifesto por uma renascença é uma coisa estúpida. O mundo, a vida e a realidade renascem constante e naturalmente, alheios a serem mundo, vida e realidade e a renascerem constante e naturalmente.

6. Só aspira a renascer quem está morto da pior morte que há, a de julgar haver vida e morte e alguém a quem aconteçam como algo que vem de fora. Só aspira a renascer quem não vê que tudo é renascença, devir e metamorfose, a cada instante. Só aspira a renascer quem na verdade está a renascer, mas sem o proveito de saborear e dar por isso.

7. Aspirar a uma renascença integral e universal é ser cego e não ver que não há renascença que não seja integral e universal. Nada renasce parcial ou particularmente. Tudo se metamorfoseia na interconexão de todas as coisas, vidas e seres.
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8. A renascença integral e universal é a do mundo, da vida e da realidade livres de o serem, livres dos nomes vãos do pensamento-linguagem humanos, livres de todos os manifestos dos que não dão o corpo ao manifesto.

9. A renascença integral e universal mostra a vanidade de todos os manifestos, junto com os programas de todos os movimentos que os humanos projectaram, projectam e projectarão, sempre por si mesmos traídos, contraditos e fracassados. Tudo isso se acumula nos museus da história das ideias sempre falsas dos humanos, armazéns desses trastes e dejectos da vida do mundo que acumulam pó e teias de aranha até que o bendito esquecimento os devolva à verdade de nunca em rigor terem sequer existido.

10. Aqui se rasgam, queimam ou desvanecem como bolas de sabão todos os manifestos, passados, presentes e futuros. Aqui soa a eterna e sempre instante hora da verdade: a do corpo dado ao manifesto. Sem manifestos nem anti manifestos.

Lisboa, 9 de Janeiro de 2013
Paulo Borges

https://www.facebook.com/pauloaeborges


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MANIFESTO DO HOMEM NOVO

Assis Machado

NOTA PRÉVIA CRÍTICA ao «Manifesto por uma Renascença Integral e Universal»

Partindo da análise e da doutrina contida no articulado do “Manifesto por uma Renascença Integral e Universal”, saído da pena filosófica de um ilustre docente da Faculdade de Letras de Lisboa, visa este nosso texto, denominado MANIFESTO DO HOMEM NOVO, constituir, na arquitectura da sua mensagem, um contraponto ideológico e ético oportuno no sentido de despoletar um debate, que se pretende vivo e actuante, para a perspectivação de potenciais saídas racionais e humanistas para o estado caótico em que se encontra a sociedade de que fazemos parte.  
Esta nossa partilha vai no sentido da participação activa na tentativa de melhorar o estado de coisas, nomeadamente da sociedade portuguesa, dando resposta ao desígnio vocacional que compete à classe académica e universitária.
Ora o Manifesto que é o alvo da nossa análise crítica, quanto a nós, enferma gritantemente de uma postura negativista e pessimista assente na dinâmica de uma “fuga em frente” isolando-se cabalmente numa estratégia sociológica de assunção periférica, tendente a tornar-se em breve num esvaziamento de sentido e de afirmação conceptual.
Partindo de uma postura nitidamente estoicista e conformada com a historicidade actual – fruto depressivo de uma vivência de crise e da carência de valores comuns, fenómeno extensivo a toda a sociedade europeia – o referido Manifesto deita por terra o verdadeiro papel dos humanos seres quanto ao significado existencial ontológico. Assim, não é de estranhar a negação integral feita a toda e qualquer aceitação do pensamento e do agir do homem relativamente ao seu lugar no mundo.  
Desta forma, perguntar-se-á: onde está a propalada Renascença, sem o contributo contundente do ser do homem? Como diria alguém, que sentido têm o mundo, a vida, o universo e as coisas sem o pensar e o agir do homem? Qual o papel das leis, das instituições, da arte e, acima de tudo, do além-homem? Qual o sentido da liberdade e da descoberta do outro?  
É dentro desta reflexão axiológica, fundamentalmente antropológica, que nos propomos não só à aceitação de todo e qualquer instrumento de acção e de afirmação humanas, a que vulgarmente se dá o nome de “manifesto”.
Todo o Manifesto saído da mente humana, resultante da sua visão do mundo e de toda a realidade que a envolve, é em si mesmo a Revelação integral. E, nesta mesma acepção, há que aceitar a justa Renascença de algo ou de alguém na amplitude do horizonte existencial. Quanto a nós, toda e qualquer Renascença só pode ter lugar a partir da Revelação, isto é, da “epifania do ser”.  
A esta «nota prévia» daremos seguimento ao que – por contraponto com o conhecido Manifesto Integral – chamaremos de Manifesto do Homem Novo, não esquecendo todavia o papel justificativo e oportuno do primeiro, reconhecendo nele uma bem-vinda pedra no charco da panorâmica intelectual e cultural do nosso país que, juntamente com este de nossa autoria, poderá dar lugar num breve tempo à revelação de um Movimento de fundo que dê motivação às novas gerações no que concerne ao seu sonho de criatividade e de afirmação.


Assis Machado


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MANIFESTO DO HOMEM NOVO

Assis Machado

(Pro-) Manifesto por uma Revelação integral e universal

1 – Este é o verdadeiro Manifesto. Isto é uma proclamação de harmonização com todos os manifestos. E esta harmonização abrange esta mesma proclamação.

2 – Todos os manifestos são bem-vindos. Todos os manifestos foram, são e serão úteis. Todos os manifestos são a revelação e a prerrogativa de quem compreende que o mundo, a vida, o homem e a realidade necessitam de manifestos.

3 – O mundo, a vida, o homem e a realidade exigem manifestos. O mundo, a vida, o homem e a realidade são complementares. O mundo, a vida, o homem e a realidade constituem o único e perfeito Manifesto porque anunciam tudo, são integrais, são pelo ser e revelam o divino absoluto.

4 – Bem-aventurados os que pensam e escrevem manifestos sobre o mundo, a vida, o homem e a realidade dando a mente ao manifesto do mundo, da vida, do homem e da realidade. Bem-aventurado quem se comunica em vez de se fechar, mal-aventurado quem se fecha em vez de comunicar.

5 – Um manifesto por uma Revelação é uma coisa sublime. O mundo, a vida, o homem e a realidade revelam-se constante e naturalmente, destinados a serem mundo, vida, homem e realidade de uma forma constante e naturalmente.

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6 – Só sonha revelar-se quem está vivo na triste vida que há, a de pensar a existência da morte e da vida e, simultaneamente, o outro que de si se revela como vindo de fora. Só sonha revelar-se quem na verdade está em revelação, mas não o saboreia nem tem consciência disso.

7 – Sonhar uma revelação integral e universal é ser intuitivo e demonstra que não há revelação sem ser integral e universal. Nada se revela parcial ou particularmente. Tudo se manifesta na interconexão de todos os fenómenos, coisas, vidas e seres, entre os quais o homem que é o actor e o criador da própria revelação.

8 – A revelação integral e universal é a do mundo, da vida, do homem e da realidade livres de o serem, dando sentido aos nomes e ao pensamento-linguagem humanos, dando significado aos manifestos que dão a mente ao Manifesto.

9 – A revelação integral e universal demonstra a virtualidade de todos os manifestos, junto com os projectos de todas as manifestações que os humanos, por sua iniciativa e em si, consciencializaram, consciencializam e consciencializarão, sendo desta forma aferidos, confirmados e desenvolvidos. Tudo isso faz parte integrante do património das ideias históricas genuínas e consistentes dos humanos, tradição inestimável das criações da vida do mundo que glorifica em apoteose essa mesma memória conduzindo-os à verdade de que, apesar de tudo, vale a pena viver.

10 – Aqui se registam, se confirmam ou se valorizam, como tesoiros preciosos, todos os manifestos, passados, presentes e futuros. Aqui se estabelece a perene e sempre pertinente hora da verdade: a da mente dada ao Manifesto. Com todos os manifestos e (Pro-)Manifestos.

Lisboa, 12 de Janeiro de 2013

Assis Machado

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http://facebook.com/frassinom

   Contactos – machadofrassino@gmail.com

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FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 13/01/2013


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