CANTO DE FRASSINO

Os meus horizontes são de Vida e de Esperança !

Textos

O POLÍCIA SETE-MALGAS
“Guimarães, anos sessenta”

Eu sei que houve um mata-sete,
Amigo do Zezé Milhões,
Mas houve um “diabo-a-sete”
Que não perdia, nem a feijões…

Chamavam-lhe o Sete-Malgas,
Que era polícia de ronda,
Aos garotos ia-lhes às nalgas
Aos vadios dava-lhes d´ avonda.

Todos lhe tinham medo:
- Oi, vem ali o Sete-Malgas
Ele é duro com´ um penedo,
E arranca-nos as fraldas!

O Sete-Malgas era famoso,
Quando havia um tete-a-tete
Aparecia logo, fogoso,
Ameaçando co´ cassetete.

Inda me lembra, no Amorosa
Nos jogos de campeonato,
Sozinho, de forma garbosa,
Aguentava qualquer desacato.

Tal era o seu desplante
Que não deixava ninguém passar
Pelas ruas da cidade adiante
Com os pés nus a amostrar…

Ficavam fulas e temeratas
As vendedeiras que iam vender
Seu leite co´ as alparcatas
E o Sete-Malgas a ver.

Ia pra ronda, à sua maneira
Desde a praça até ao Castelo,
Passava p´ lo Campo da Feira
E no Toural… era só vê-lo.

De tarde fazia ao contrário,
Acabando de novo na praça.
Mas ao meio-dia era operário
Numa tasca, cheio de traça.

Velha cantina popular,
Ali ao Martins Sarmento,
Ele, o primeiro a abancar
Requerendo o seu alimento.

Era uma festa vê-lo comer:
Tripas à moda do Porto
Com broa de apetecer
E “sete-malgas” de conforto.

– Ó Ti Jaquina, bote cá,
Mate-me já o sedeiro,
Branco ou tinto, tanto dá,
Pra aguentar o dia inteiro!

Aquele corpo agigantado,
Do barrete até às botas,
Com sete-malgas de atacado
Sem ficar de pernas tortas…

– Não há sesta pra ninguém,
Há que ir até à estação
Uma milena, medida bem,
Dá pra fazer a digestão!

E vinha o arroto da ordem
Que fazia estremecer…
E risadas de vaivém
Pra cambada enlouquecer.

A motora dos estudantes
Pra Vizela ia partir
Vinha o polícia a penantes
Para tudo ver e conferir.

Mas já não conferia nada,
A não ser ali em frente
Beber mais meia canada
E ficar a troçar da gente.

Sete-Malgas, Sete-Malgas,
O terror da Cidade-Berço,
Tantas saudades fidalgas
Que não cabem num só verso!

Frassino Machado
In AO CORRER DA PENA
FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 29/09/2018
Alterado em 30/09/2018


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