“Poemas de barba rija”

“Podem participar todos os HOMENS
Que escrevam em língua portuguesa” –
Na Língua de Camões pois com certeza –
Mas esquecem-se que nela se consomem
Muitas MULHERES com os seus rijos nomes…

Poemas de “barba rija”, por esmero,
Se disto o soubesse Natália Correia
Nem queiram saber a rija verborreia
Que andaria por aí em destempero:
Tal Colectânea para que vos quero?

Só HOMENS escrevem poemas de cornija?
Que as MULHERES não corem de vergonha –
Pensando que o seu estro tem peçonha –
Se em Camões, e até em Sena se transija,
Não alinharei nestes “poemas de barba rija”!

Eu sei que esta «ideia» não é perversa
E que se trata apenas de literatura
Mas “barba rija” em sua forma pura
Tem significação assaz diversa
Da desta «Colectânea» controversa…

Ó vós Mulheres – poetas ou poetisas –
Jamais consintais ser discriminadas
Nos poemas que fazeis, ou nas baladas
Que têm beleza, e que são bem precisas
Pra contrapor aos tais Barões das brisas!

Se até as mulheres de Brandão iam à luta
No mar bravio e ácida maresia,
Porque não enobreceis vós a poesia
Com poemas de barba rija, larga ou curta,
Fazendo deles uma excelente fruta?

Assim o fez Sophia e o fez Amália –
Deixando aos cavalheiros as guitarras –
E nenhuma delas admitiu amarras
Nem sequer aceitaram didascália
E nunca daí sofreram represália.

Poemas de barba rija, não são apanágio
Do sexo dito forte sem o ser –
Será machismo, está-se mesmo a ver...
Haja bom senso e evite-se o naufrágio
E que a Poética não sofra tal contágio!  


Frassino Machado
In ODIRONIAS